MINHA NETA LEVOU-ME AO CINEMA
Nada contra o cinema, mas prefiro ficar três meses lendo um livro do que uma hora e meia assistindo a um filme.
Dessa forma, não lembro quando fui a última vez ao cinema.
Mas, que safadinha, minha netinha Alícia conseguiu me levar ao cinema nesse fim de semana para assistir à um filme de desenho animado, pode isso?
Primeiro fizemos um lanche, depois cinema e, para encerrar a tarde, um sorvete. Lá encontrei uma amiga, vovó babona como eu, andando naqueles bichinhos de pelúcia, na companhia da linda netinha, toda feliz.
Amo minha netinha, querida! Linda, educada, carinhosa.
Quando os filhos saem de casa, o ninho fica vazio. A casa parece pequena para os filhos espaçosos, barulhentos e sempre presentes. Quando eles vão embora, construir sua própria vida, a menor casa fica enorme, vazia, fria e triste.
Mas, um dia os filhos voltam, com os netos a tiracolo. Enchem a casa, de novo, com conversas, risos, brigas e abraços, aquecendo os corredores frios.
A síndrome do ninho vazio machuca o peito e enche os olhos de lágrimas, e o retorno dos filhos com filhos nos faz acreditar que somos importantes, que ainda estamos vivos e que temos função.
Tento me manter ocupado com a Academia, com a escrita, com o escritório de advocacia, com a participação em programa de rádio, com palestras e outros eventos, para criar a ilusão que ainda sirvo para alguma coisa.
Dessa forma, quando os netos convidam a gente para ir ao cinema, comer uma pipoca, tomar um sorvete e assistir um filme barulhento de desenho animado (é assim que se chama?), e, pior, gostamos, é porque estamos vivos!
Descobri que minha aversão ao cinema é coisa de velho pretensioso, que acha que sabe que a leitura é a única forma de cultura, quanta bobagem.
Foi uma tarde deliciosa, Alícia.
Vovô te ama.
Obrigado por me mostrar que sou importante.
Beijos.