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MEU ZELOSO GUARDADOR


CAPÍTULO III

Dezoito horas e vinte minutos, quase fim do expediente. Já se passara três horas do momento em que o homem decidira ficar na sala de audiência esperando a justiça. Estava difícil manter a ordem, pois a imprensa se negava a sair, alegando direito de informação. Outros órgãos de informação que estavam na porta do prédio pediam autorização para entrar e cobrir o evento. Permitir o ingresso criaria mais confusão, não permitir comprar briga com a imprensa.

Tudo que está ruim pode ficar pior.

Toca o telefone.

- Doutor, a corregedoria.

Era só o que faltava, mas era previsível, pois a notícia estava em todas as rádios e televisões.

- Doutor Gustavo, quem fala é o Corregedor-Geral de Justiça. O que está acontecendo aí?

Procurando controlar a tensão, respondeu:

- Nada sério, apenas um réu de ação de guarda que não concorda com a sentença.

- Sim, mas ele decidiu não sair da sala de audiência enquanto a decisão não fosse modificada. O senhor não pode submeter o Poder Judiciário a este vexame, é uma afronta à sua autoridade.

Seguiram-se diversos conselhos de como enfrentar a crise - Chama a polícia, se for necessário! - e oferecimento de auxílio da Corregedoria.

- É importante referir, Doutor, que isto pode prejudicá-lo muito em seu pedido de promoção.

Droga, o que fazer?

Desliga o telefone. O que fazer?

- Já chamei a ex-esposa. Só ela pode ajudar.

O juiz levou um susto. Estava tão absorto, preocupado com o telefonema da Corregedoria que não vira o escrivão entrar.

- O senhor está louco, isto não vai dar certo.

- O doutor tem outra ideia?

Não tinha. Fazer o quê?

- Está bem, mas traga-a pelo elevador dos juízes e direto à minha sala.

Nisto, já era noite.

Centenas de pessoas se acumulavam na frente do foro. Inclusive organizações de defesa da família, contra e a favor do réu, outras de direitos humanos e ainda uma que, sempre que podia, se manifestava contra o sistema judiciário.

O juiz ligou para casa e avisou que só iria para casa quando o estivesse resolvido.

Mal sabia que o problema só havia começado.


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João Marcos Adede y Castro

JOÃO MARCOS ADEDE Y CASTRO é graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria, sendo Mestre em Integração Latino Americana, pela mesma Universidade.

 

É doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidade del Museo Social Argentino, e doutorando em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, ambas de Buenos Aires.  

 

Foi Promotor de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul por quase 30  anos, tendo exercido as atribuições de Promotor de Justiça Especializada de Defesa Comunitária, com atuação preponderante nas áreas de defesa do meio ambiente, interesses sociais e coletivos e improbidade administrativa. É Professor Universitário.

 

 É membro e  foi Presidente da Academia Santa-Mariense de Letras, ocupando a cadeira número 16, cujo patrono é o escritor e jurista  Darcy Azambuja. É advogado em Santa Maria, RS.

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