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MEU ZELOSO GUARDADOR


CAPÍTULO II

Cabeça baixa, sente o burburinho, não vê as pessoas, ouve comentários, uns de apoio - pobre pai! - a maioria de desagrado - este cara está desafiando o Poder Judiciário! - mas a única coisa que quer, de verdade, é que seja feita a justiça.

Mas, a justiça foi feita, ao menos por ora. Basta recorrer da decisão e modificá-la. Então há uma possibilidade de que a justiça não tenha sido feita? Quais os critérios para definir o que é justo do que não é justo?

No gabinete do juiz, a pergunta:

- Como a imprensa chegou tão rápido? Quem a avisou?

- Acho que ninguém a avisou. Parece que a imprensa estava acompanhando uma audiência de um político importante e viu a confusão logo que o cara negou-se a sair da sala.

- E o que estamos esperando para chamar a segurança e traz o cara à força?

Todos se olham, sabem a resposta. Vai repercutir muito mal, a justiça está "meio queimada".

- Mas, e a minha autoridade como juiz, como fica?

O escrivão, com cerca de trinta anos de trabalho, e prestes a se aposentar, foi o único que teve coragem de falar o que todos pensavam.

- Como o devido respeito, doutor, não cabe a mim tecer considerações acerca de seu trabalho, mas a sua sentença...

O juiz saltou, fisicamente, de trás da mesa, indignado.

- O senhor tem razão, não tem atribuição para criticar minhas decisões. Tem apenas que me auxiliar a resolver a crise que se instalou porque os servidores não foram eficientes para impedir o ingresso da imprensa.

- Desculpe, mas a crise só vai acabar quando a sentença for modificada.

- O Senhor é advogado do réu, por acaso?

O escrivão olhou para o juiz, com pena. É uma criança pretensiosa. Mas, não disse nada. Pediu licença e saiu. Ao chegar à porta, virou-se, a tempo de ver o juiz desabar na cadeira atrás da mesa.

O escrivão resolveu tomar algumas providências, à revelia do juiz. Ele sabia tudo de direito e nada de pessoas.

O réu, já que estava separado da autora, devia ter uma namorada. Não tem, disseram os servidores, o cara sempre teve a esperança de recuperar seu casamento. Parentes, sim, mas em cidade distante mais de oitocentos quilômetros. Amigos, nenhum importante.

A solução estava na ex-esposa, ou seja, a autora.

Alguém disse que ela nunca colaboraria.

- Não custa tentar. Liga para ela.


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João Marcos Adede y Castro

JOÃO MARCOS ADEDE Y CASTRO é graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria, sendo Mestre em Integração Latino Americana, pela mesma Universidade.

 

É doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidade del Museo Social Argentino, e doutorando em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, ambas de Buenos Aires.  

 

Foi Promotor de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul por quase 30  anos, tendo exercido as atribuições de Promotor de Justiça Especializada de Defesa Comunitária, com atuação preponderante nas áreas de defesa do meio ambiente, interesses sociais e coletivos e improbidade administrativa. É Professor Universitário.

 

 É membro e  foi Presidente da Academia Santa-Mariense de Letras, ocupando a cadeira número 16, cujo patrono é o escritor e jurista  Darcy Azambuja. É advogado em Santa Maria, RS.

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