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MEU ZELOSO GUARDADOR


CAPÍTULO I

A sentença, ditada em voz baixa e, parecia, envergonhada, dizia: - Isto posto, julgo procedente a ação de guarda para deferi-la em favor da autora, uma vez que comprovadamente preenche melhores condições que o pai, réu, para criar, manter e educar a criança... Melhores condições... réu... criar e manter... As palavras finais não foram ouvidas pelo réu, esmagado pela ideia de que não tinha condições de criar e manter sua filha, com oito anos de idade. Como um turbilhão, as imagens da data em que o réu recebeu a notícia de que a esposa, hoje autora, estava grávida, começaram a invadir sua mente. Como se de um mundo distante e estranho, as palavras do juiz diziam: - ... o réu pagará pensão alimentícia à filha no valor de... O sonho de ser pai começara com muitos beijos e um jantar romântico, eu amo você mais ainda, mamãe... será menino? - Não importa, querido. Mas, eu acho que vai ser menina! - Uma princesa, linda e amada como a mãe. A mãe, ou melhor, a autora, era a mesma pessoa de hoje? O réu, ou melhor, o pai, era a mesma pessoa de hoje? Sentiu uma mão em seu ombro. - Vamos, Renato. Vamos recorrer, em poucos meses a Luíza estará contigo. Na verdade não ouviu, sentiu as palavras. - Doutor, leve seu cliente porque temos outra audiência em seguida! A barriga crescendo, que linda! Nunca imaginou que amaria a barriga dela, mas ela representava o sonho de sua vida. Os primeiros movimentos do bebê em sua mão ansiosa, a cabeça encostada, os barulhos que de lá vinham, muitos naturais dos intestinos rotulados com fé como dos movimentos do bebê. - Como mexe, vai ser agitada como o pai! Quanto orgulho. - Por favor, senhor, mas tem de sair. Por que sair? Que tenho lá fora que não tenho aqui? As roupinhas cor de rosa, os sapatinhos de renda, tudo que parecia um monte de bobagens, "coisa de mulher", que engraçadinho, tem um perfume tão bom. Beija as roupinhas da filha que vai nascer e, envergonhado, chora. É um choro bom, dá uma paz. Como sou feliz, nada pode ser melhor que ter uma filhinha. A sala parece cheia, muitas pessoas falam, armou-se uma confusão. O pessoal da justiça perdeu o controle da situação, juiz e promotor já saíram, protegendo-se em seus gabinetes. - Resolvam isto, já tem até imprensa na sala de audiência. Este cara é louco! Flashes de máquinas fotográficas. Luzes de câmaras de filmagem. -Sou do Jornal do Povo. Por que o Senhor se nega a sair da sala de audiência? Pensa, pensa, longos minutos de silêncio. - Você não ouviu o juiz? Por que sou louco.


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João Marcos Adede y Castro

JOÃO MARCOS ADEDE Y CASTRO é graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria, sendo Mestre em Integração Latino Americana, pela mesma Universidade.

 

É doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidade del Museo Social Argentino, e doutorando em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, ambas de Buenos Aires.  

 

Foi Promotor de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul por quase 30  anos, tendo exercido as atribuições de Promotor de Justiça Especializada de Defesa Comunitária, com atuação preponderante nas áreas de defesa do meio ambiente, interesses sociais e coletivos e improbidade administrativa. É Professor Universitário.

 

 É membro e  foi Presidente da Academia Santa-Mariense de Letras, ocupando a cadeira número 16, cujo patrono é o escritor e jurista  Darcy Azambuja. É advogado em Santa Maria, RS.

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